A vida na ampulheta

No caleidoscópio do mundo moderno, a vida tornou-se um filme triste em preto e branco. 

Por Marina Montejano
Assombrada pela vida moderna, a mente aprisiona e impossibilita seguir em frente (Arte: Marina Montejano)

Imagine-se sobre uma carroça com dois cavalos, em uma estrada sinuosa, estreitada por um imenso desfiladeiro. Para que não aconteça nada, é preciso que os cavalos estejam em sincronia plena e nenhum se oponha ao outro. Um dos cavalos, “Id”, é o mais voraz e anseia por correr na estrada sem lidar com o que está atrás dele – no caso, você! O outro, “Superego”, teme o abismo ao lado, e o medo o impede de sequer sair do lugar.

Esta análise, pertencente a Platão, explica a nossa mente e a forma como a usamos para reagir em sociedade. Hoje, vivendo entre uma geração problemática de jovens, tendemos a seguir apenas o pior dos cavalos! Quando o id prevalece e nos domina, não há controle direto sobre as ações antecipadas e mal pensadas e surgem distúrbios, como transtorno explosivo iminente. Já na outra parcela de jovens que tem o superego como maior influência, o medo a domina e a vida passa a ser extremamente vazia, culminando em problemas igualmente graves, como a depressão.

No país da hipocrisia, andamos pelas ruas e nos deparamos com cartazes que só aparecem durante o mês de setembro, dizendo-nos que falar é a melhor solução e que não estamos sozinhos. O mesmo não se via há 20 anos. Será que não ligávamos para a saúde mental das pessoas, ou os transtornos mentais não eram tão graves quanto hoje?

Tempos atrás, conversas sobre esse assunto eram silenciadas, uma vez que eram tratadas como tabu cultural. Logo, nossos pais e avós não ouviam o discurso que defendia, como melhor solução, a exposição do distúrbio, tampouco que poderiam encontrar ajuda em um contexto tão sombrio e solitário.

O fato é que tanto as frases prontas quanto os cartazes que pregam ideias rasas sobre um assunto tão profundo são partes do famoso senso comum, o qual criamos para tentar achar soluções simples para problemas complexos. A verdade, entretanto, nunca foi tão óbvia: as novas gerações estão doentes e quanto mais adiarmos o debate sobre as máculas da mente, mais jovens perderão a guerra contra si mesmos.

A geração Z, que se alimenta cegamente de idealizações mentirosas de uma vida utópica provida pela internet, é alvo de pressões para atingir um padrão existencial perfeito – logo, inexistente! Desesperados por aceitação popular, os novos jovens se afundam em transtornos mentais, estrada que, para muitos, leva ao caminho quase sempre sem volta do álcool e das drogas. Logo, percebe-se que esta geração não sabe lidar com seus problemas – e a passada também não. Pais criaram seus filhos para acordar, ir à escola, voltar e dormir. Num loop infinito, tantos padecem diante de uma vida em preto e branco, optando por caminhos também obscuros e ainda piores, como o suicídio.

No mundo todo, estima-se que a cada 40 segundos alguém tira a própria vida. E a pergunta que fica é: entre montanhas de caixas de remédio esgotadas e a atual superficialidade existencial, como podemos prosperar e esperar um futuro melhor para as nossas crianças?

A resposta pode estar em Augusto Cury, o qual diz que “a mente humana é como o pêndulo de um relógio que flutua entre a razão e a emoção”. A esperança acaba quando reconhecemos que este pêndulo parou cedo demais, e a vida se tornou a areia que cai lentamente na parte de baixo da ampulheta e, inexoravelmente, esvai-se. Tic-tac, tic-tac…