Atentado à razão
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A falta de investimentos na área de humanas escancara a ignorância dos gestores públicos e abre as portas para um retrocesso social ainda maior.
Por Maithê Artigiani Massucci
Há alguns meses, foram divulgadas propostas do governo de cortes para universidades públicas, com ênfase nas áreas de humanas (História, Geografia, Filosofia, Sociologia e Artes Cênicas), que, supostamente, não geram retorno direto ao país. Nesse contexto, testemunhamos um dos muitos indícios da desvalorização e ignorância que envolve essa temática e seus gestores.
Existem outros fatores que evidenciam a inclinação estatal em colocar as ciências biológicas e exatas em esferas superiores, tomando as demais ciências como saberes de segunda classe. A falta de reconhecimento, poucos empregos e baixos salários, juntamente com a grade curricular inferior nas escolas e o atual estereótipo político-ideológico atribuído aos professores destas disciplinas corroboram a afirmação.
A área de humanas não é apenas importante, mas fundamental e necessária, uma vez que o entendimento da sociedade e de seus produtos é imprescindível para uma ampla melhora no modo de se viver e pensar. Como escantear a Filosofia, cepo que questiona nossa existência há mais de 2.500 anos e nos ajuda a evoluir diacronicamente, além de ser um dos pilares da ciência, por sua busca incessante por conhecimento racional e lógico.
Ainda, como inferiorizar a História, que nos permite aprender com os erros do passado e ressignificar nosso futuro. Como desdenhar a sociologia, que oferece a compreensão das relações humanas e de suas desigualdades, deixando evidente a necessidade de mudanças no âmbito social. E a arte, que propicia questionamentos, reflexões e inúmeras formas de expressão, como suprimi-la do processo de formação do indivíduo.
A reflexão que podemos fazer é a de que, se somos seres sociais e críticos, dotados de racionalidade, e as ciências humanas estimulam exatamente essa capacidade, querer extingui-las ou desvalorizá-las é o mesmo que clamar por deixar de entendermos a nós mesmos e a res social, permitindo que nossas escolhas e vontades sejam definidas por aqueles que nos cerceiam a razão e nos enxergam como mera massa de manobra.
Pensamento Plural
“As ciências humanas são fundamentais na formação de indivíduos que possam, seja nas biológicas, seja nas exatas, criar um conceito de ciência para a humanidade, acima dos interesses de mercado.”
Bruno Borges, professor de filosofia e sociologia do Colégio Monteiro Lobato.“As humanas, que fazem as pessoas pensarem e discutirem, não são convenientes em uma sociedade que não valoriza o conhecimento e a diversidade de opiniões e muito menos a educação.”
Maria Cecília Lemes, professora de história do Colégio Monteiro Lobato.“Eu sinto a desvalorização de diferentes formas. Como professor, percebo que o conhecimento é questionado devido aos revisionismos de redes sociais. A área de humanas é atacada por defender liberdade de pensamento, posição contrária aos governos e governantes.”
Thais Caveanha, professora de história do Colégio Monteiro Lobato.