Entre os tambores e os estudos 

Amazona desde os três anos, Maria Fernanda Rodrigues quer utilizar ensinamentos das arenas para alcançar o sonho de ser juíza.

Apesar de uma vida toda sobre os cavalos, a jovem amazona sonha em ser advogada (Foto: Divulgação)

Para quem vê de longe, o mundo dos rodeios parece ser um ambiente hostil e pouco amistoso, no qual homens de coragem inabalável encaram touros e cavalos ferozes sem hesitar. Esse universo, entretanto, nunca assustou a estudante Maria Fernanda Rodrigues Braz, de 15 anos. Praticante de três tambores há 12 anos, a mineira de Borda da Mata (MG) é um dos destaques da modalidade no país, já sendo, inclusive, detentora dos títulos nacional (2014) e regional (2017), na categoria Jovem A, ambos de grande expressão no esporte.

Apesar dos bons resultados, a jovem abriu mão das competições para se dedicar à busca por uma vaga em uma grande universidade. “Hoje em dia, eu não tenho mais tempo de competir, porque estou focada em meus estudos. Nessa fase da minha vida, é difícil conciliar as competições, embora continue treinando”, explica a aluna do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Monteiro Lobato.

A prova de três tambores é uma das mais tradicionais nas festas de rodeio, que também, geralmente, apresenta disputas de montaria em touros, sela americana, bareback, cutiano e team penning (veja mais no quadro ilustrativo ao lado). Seu objetivo é contornar, no menor tempo possível, três tambores dispostos em um percurso triangular, o que exige muita habilidade atlética do cavalo e da amazona.

Maria Fernanda durante prova dos três tambores, uma das mais tradicionais nos rodeios (Foto: Divulgação)

De acordo com Maria Fernanda, não foram apenas competições e títulos que ela acumulou em mais de uma década de carreira. “Quando eu tinha nove anos, sofri um acidente grave no rodeio de Jacutinga, em 2012. Levei uma queda feia, trinquei uma vértebra, quebrei o pulso e esfolei meu rosto. Lembro que fui levada ao hospital e, mesmo toda quebrada, queria voltar ao rodeio para competir. Para eu não ficar triste, meu pai me levou de volta para que eu pudesse assistir o restante da competição”, relembra.

Mesmo sendo apaixonada pela modalidade e ainda contando com o apoio irrestrito do pai, que também é entusiasta do esporte, Maria Fernanda não pretende seguir a carreira profissionalmente, uma vez que está focada em outro grande sonho de sua vida. “Eu pretendo fazer Direito, mas, para isso, preciso estudar muito e saber distinguir meus hobbies de minhas prioridades. O esporte me trouxe muitos benefícios e conhecimento. Adquiri uma capacidade física melhor, muita concentração, autocontrole e aprendi a respeitar meus limites. São ensinamentos que eu posso utilizar também nos estudos, tornando-me uma estudante mais atenta e preparada”, finaliza.

Conheça as principais modalidades disputadas nos rodeios

Três tambores

A única prova exclusivamente feminina de rodeio. Nessa modalidade, a amazona monta no cavalo e sai em disparada para contornar três tambores dispostos do outro lado da arena, formando um percurso triangular. Quando a competidora ultrapassa a linha de largada, o cronômetro dispara automaticamente. A cada tambor derrubado, há uma penalidade de 5 segundos acrescentada no tempo final.

Touro

(Foto: Divulgação)

A parte mais esperada de toda noite de rodeio, a montaria em touro já é uma tradição no país. O peão usa uma mão para segurar a corda que é amarrada no corpo do animal. A outra mão deve ficar livre e não pode tocar em nada. O peão deve permanecer em cima do touro por 8 segundos. O julgamento da prova leva em conta a dificuldade imposta pelo touro, e a nota varia de 0 a 100 pontos.

Team Penning

Essa modalidade é disputada em trio. Em um lado da arena fica um curral e, do outro, são soltos em média 30 animais numerados. Assim que um número é sorteado, os competidores devem apartar os três animais do resto do rebanho e colocá-los no curral. O tempo máximo da prova é de 60 segundos para cada trio.

Sela americana

Esse é um estilo supertradicional dos rodeios. Quando o cavalo entra na arena, o competidor tem que realizar o chamado mark-out, ou seja, colocar as esporas na altura do pescoço do animal. As esporas são puxadas para trás, de forma que o cavaleiro flexione o joelho, acompanhando os pulos do animal até o fim dos 8 segundos. Se não cumprir as regras, é desclassificado e fica sem nota, essa pode variar de 0 a 100.

Cutiano

O competidor deve segurar a rédea com uma das mãos e deixar a outra livre, sem tocar em nada. Quando o cavalo sair do brete, a espora deve ser puxada da altura do pescoço para a alça do arreio, também acompanhando os pulos do cavalo, no tempo de 8 segundos. Quanto mais alto o competidor conseguir, melhor sua nota.

Bareback

Nesta modalidade, o competidor monta diretamente no dorso do cavalo e um pouco à frente, na região da cernelha do animal, é colocada uma alça de couro chamada bareback. As esporas do peão são puxadas no sentido do pescoço para o bareback, de forma que o competidor fica quase deitado em cima do cavalo. Ele deve aguentar 8 segundos para ter uma pontuação que vai de 0 a 100 pontos.